sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Um linda história.

Auto-retrato escrito, quase falado
João Luís dos Santos

Nasci na pequena e crescente Penápolis
Época de botinas e de censuras no país
Filho de mãe baiana e de pai baiano
Que fugindo na seca no sul da Bahia
Foram para o norte de Minas
Mas o destino quis o interior caipira
de São Paulo.

Meu pai lavrador, teve uma venda
quase no Último Gole
Talvez fosse o penúltimo gole
Onde me criei e cresci livre, liberto
Sem versos decassílabos heroicos
Versos livres para correr e brincar
Com as palavras e os sons da rua
De terra batida.

Lugar de gente humilde
Trabalhadora, solidária, amiga
que dividia o pouco arroz com feijão
E repartia a carne de charque
Que ficava pendurava no final do varal
De roupas, tomando sol e chuva
Salgando no tempo e no espaço.

Apanhei gabirobas
E olhei as margaridas do campo
Brancas e amarelas florirem
Poucas de todas as minhas primaveras

Cresci divagando entre as coisas da cidade
E as coisas maravilhas da roça
Sou da roça e sou da cidade
Mais que isso sou uma mistura de tudo
Enfrentei todos os preconceitos sem preconceito
O branco achava que eu era negro
E o negro achava que eu era mulato
E os mulatos falavam que eu era branco.

Os pobrezinhos achavam que eu era rico
E os ricos achavam que eu era pobre
E foi assim que me firmei e me alcancei

Sendo um pouco de tudo
E um tudo de nada
Não sei o que me salvou
Talvez a herança maior de meu velho pai: a calvície.
O bigode eu não quis herdar.
Me deixou também alguns contos de coragem,
outros réis de solidariedade.
Outros vinténs de fé e de esperança.

De minha mãe
Acredito que herdei o sorriso cativante
O olhar profundo e um pouco do gosto pelas boas prosas
E um punhado de versos e de rimas.
Aprendi com ela o Pai Nosso e a Ave Maria.

Me formei homem de letras e de leis.
Casei, escrevi livros, tenho uma linda filha.
Tenho me achado sempre que me procuro
E vou em frente sem pedir licença ao destino.

Medo, algum medo? Mais dos vivos do que dos mortos.
Sempre tendo saudade, do passado e do futuro.
Mas sei o que vale é o presente.

Mas pode crer, finquei meu punhal numa velha aroeira
Agora me preparo para outras andanças.
Minha estrada, meu caminho, que vai me formatando
conforme o meu estradar,
na captura das guiantes estrelas.


Obs.: O Prof. João Luís dos Santos foi prefeito de Penápolis, SP, cidade onde vivi por 17 anos. Fui pastora da Igreja Metodista naquela cidade por 12 anos, de 1986 a 1998.

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